SISTEMA DIGESTIVO DOS BEZERROS
O bezerro ao nascer é considerado um pré-ruminante. Por sua dieta ser composta basicamente por leite, seu sistema digestivo está preparado para digerir apenas proteínas do leite, lactose e gordura do leite. Com o passar dos dias, mudanças fisiológicas vão acontecendo, preparando este animal para ser um futuro ruminante.
No nascimento, o abomaso está totalmente ativo e funcional, pronto para a digestão dos nutrientes do leite. O rúmen, por sua vez, ainda não está totalmente desenvolvido, sendo o responsável pela digestão das fibras e alimentos sólidos, quando o animal estiver mais velho.
Por isso, é de extrema importância que o leite seja direcionado diretamente para o abomaso, por ser o único estômago que fará sua digestão. Para que isso ocorra, é necessário que se tenha o reflexo de fechamento da goteira esofágica, músculo temporário que desvia o leite do retículo-rúmen direcionando-o para o abomaso.
Para entendermos melhor o caminho feito pelo leite, veja a ilustração abaixo:
FATORES IMPORTANTES PARA O REFLEXO DO FECHAMENTO DA GOTEIRA ESOFÁGICA
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A Sucção é o melhor estímulo para que ocorra o fechamento.
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Fluxo lento de leite. O fluxo rápido e alto, faz pressão na goteira esofágica, fazendo com que haja uma falha no seu fechamento, podendo levar até 50% do leite ingerido até o rúmen (Wise e Anderson, 1939).
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O posicionamento do alimentador deve simular a altura do úbere de uma vaca. O nariz do bezerro deve estar levemente abaixo dos olhos.
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Temperatura adequada do leite (40ºC).
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Constância no manejo.
Ilustração: César Aleixo
A IMPORTÂNCIA DA SUCÇÃO E SALIVAÇÃO
SUCÇÃO
A sucção é fundamental para o reflexo de fechamento da goteira esofágica e controle da quantidade de leite ingerida a cada sucção.
Uma pesquisa de Appleby et al. 2001, comparando bezerros aleitados em baldes abertos com bezerros com livre acesso a bicos, mostrou que os animais que se alimentavam em bicos passavam 47 minutos ingerindo leite entre 6 a 10 refeições. E durante cada refeição 44 segundos ingerindo leite e 6 minutos sugando o bico.
Isso indica que a sucção é um comportamento natural dos bezerros, e que quando são privados deste comportamento (quando alimentados em baldes abertos) no momento do aleitamento, procuram algo para sugar após consumir o leite, a fim de satisfazerem seu desejo de mamar.
Quando em grupo e não alimentados com bicos de fluxo controlado, os animais para satisfazerem a necessidade de sugar, sugam partes do corpo dos companheiros de grupo.
O problema é ainda maior quando a parte do corpo escolhida é o teto. A sução do teto faz com que o tampão de queratina presente ali seja retirado, deixando o canal do teto aberto para a entrada de patógenos. Esse fato pode levar a um desenvolvimento de mastite na futura novilha.
A sucção também promove uma maior produção e liberação de hormônios como a Colecistoquinina e Insulina. A Colecistoquinina é importante para a digestão de gordura e saciedade, já que a Insulina é responsável pelo direcionamento da energia aos tecidos corporais.
SALIVAÇÃO
A digestão do leite começa na boca!
Na saliva do bezerro encontra-se a Lipase, uma enzima capaz de fazer a digestão da gordura do leite. Assim, quanto mais o bezerro salivar ao se aleitar, maior será a produção de Lipase, e melhor a gordura será digerida no abomaso.
O bicarbonato de sódio também está na composição salivar, auxiliando no equilíbrio de pH abomasal, o que ajuda na coagulação do leite.
A saliva também é a primeira barreira antibacteriana dos bezerros, uma vez que possui propriedades antibióticas, sendo uma das principais defesas contra infecções.
LEITE NO RÚMEN NÃO É BOM SINAL!
Quando o bezerro se alimenta com sólidos e água, não há reflexo do fechamento da goteira esofágica, direcionando estes alimentos para o rúmen, como é esperado no funcionamento do sistema digestivo desses animais.
No entanto, no aleitamento, a falha no fechamento da goteira leva leite ao rúmen. Esse é um dos maiores problemas nos bezerreiros atualmente, pois o leite no lugar errado pode levar o animal a desenvolver acidose metabólica.
O rúmen, por não ter capacidade para digerir o leite, faz com que o leite que se encontra nesse compartimento sofra uma fermentação, resultando no Ácido Lático. A absorção desse ácido pela corrente sanguínea leva o animal a acidose metabólica, causando: anorexia, dor, timpanismo (acúmulo de gases no rúmen), diarreia e desidratação, podendo levar o animal a óbito.
LEITE NO ABOMASO
O abomaso é um ambiente com pH baixo (ácido) devido ao ácido clorídrico secretado ali. Esse pH auxilia na ativação da enzima Renina, que entra em ação coagulando o leite. Após a coagulação, a gordura é retirada do coágulo. As proteínas do soro, a lactose, minerais e vitaminas solúveis serão extraídas durante a retração do coágulo.
Alimentos que chegam ao intestino mal digeridos, podem levar a alta incidência de diarreia, pois as bactérias presentes no intestino utilizam estes alimentos para se multiplicarem. É o caso da lactose. Quando o leite é ingerido rapidamente há uma falha na coagulação, impedindo que este açúcar do leite seja totalmente absorvida no abomaso. Ao chegar em grande quantidade no intestino, as bactérias E. Coli a utilizam como fonte de energia para se multiplicarem, e como resultado desse aumento de população ocorre a diarreia.